Ao se falar em propostas para a Direção da SBL no biênio 2025-2027, permitimo-nos algumas considerações contextuais de cunho reflexivo como forma de apresentar nossas intenções para o próximo mandato.
Desde o século XVII, o movimento das sociedades científicas se espalhou pela Europa e, posteriormente, pelo mundo, fomentando o conhecimento científico, o intercâmbio intelectual e a diversificação das ciências. A expansão das sociedades científicas ultrapassou fronteiras geográficas em um processo que não pode ser desvinculado do colonialismo e tampouco reduzido a ele. Assim, com base em associações locais, a expansão das sociedades científicas aos poucos foi se transformando, de reuniões frequentes de membros locais para reuniões anuais e periódicos revisados por pares, em crescente internacionalização. Em pleno século XXI, nossas sociedades mais proeminentes são agora organizações internacionais de amplo alcance e, em muitos casos, sofisticada capacidade política. Apesar desse amadurecimento, as sociedades científicas podem agora estar à beira do desaparecimento. É um fenômeno mundial novo que ora testemunhamos: sem conseguir convencer seus membros do valor de sua missão coletiva, muitas sociedades científicas estão perdendo associados e, sem isso, praticamente tornam-se um negócio com foco no lucro ou simplesmente deixam de existir.
Por quatro séculos, as sociedades científicas foram centrais na disseminação e democratização da ciência, tornando o conhecimento amplamente acessível por meio de reuniões e periódicos científicos. No entanto, a era eletrônica está mudando fundamentalmente o papel que as sociedades desempenham na disseminação da ciência. Por meio de bibliotecas institucionais, a maioria dos membros em potencial agora tem acesso imediato aos artigos de periódicos científicos sem a necessidade de associação a uma sociedade específica. Um periódico científico está instantaneamente ao alcance de qualquer pessoa ou instituição que pague pelo acesso às plataformas editoriais. E com as redes digitais de relacionamento, passaram a ser acessíveis também os contatos da maioria dos indivíduos com interesses profissionais em comum, deixando quase obsoleto até mesmo o e-mail. Ora, se o acesso ao conteúdo de periódicos e aos diretórios de membros não é mais uma motivação para que as pessoas se associem, então as sociedades científicas estão obsoletas? Se sim, devemos nos preocupar?
As sociedades científicas no mundo todo estão em sério perigo e a SBL não é exceção. Mas definir sociedades científicas apenas como um meio para publicar um periódico ou realizar um encontro anual é reduzir o valor de uma sociedade em termos econômicos muito restritos. As pessoas podem geralmente acessar os mesmos bens e minimizar despesas por outros meios. Portanto, não ser membro de uma sociedade é uma opção que minimiza custos. Para que as sociedades científicas prosperem no século XXI, elas devem significar mais para seus membros do que simplesmente ser fonte de acesso a um periódico ou participar de um encontro. Sociedades representam o interesse compartilhado entre profissionais em promover a ciência como atividade comunicativa e, cada vez mais, exige-se que sejam comunidades não paroquianas, com relações nacionais e internacionais diversificadas, de forma a propiciar elos profissionais produtivos para alcançar objetivos coletivos.
Nesse sentido, é possível afirmar que a finalidade de uma sociedade científica é constituída de quatro funções básicas:
1. Construir, manter e disseminar o conhecimento;
2. Favorecer a formação continuada na sua área específica;
3. Promover o uso social do conhecimento de sua área específica;
4. Criar uma consciência ampliada da ciência pelo público leigo.
Cada sociedade reúne pessoas de interesse e formação similares, com a educação e a experiência adequadas a contribuir para as funções listadas. De fato, participar de uma sociedade científica é sobretudo questão de responsabilidade para com a pesquisa.
É para isso que a SBL foi fundada na década de 1980. Se comparada a outras sociedades científicas, a SBL é de fato muito jovem. Apesar de sua juventude, a SBL sempre marcou presença positiva no debate científico. Seus membros têm tido sucesso na organização de centros e grupos de pesquisa, fóruns e seminários, bem como juntamente a outras sociedades, nacionais e internacionais, das mais tradicionais às emergentes, grandes ou de menor porte, sem contar um número crescente de eventos locais. E mesmo sem publicar um periódico científico próprio, a SBL aumentou significativamente de tamanho, o que demonstra uma vivacidade ímpar.
Ora, como pode então a SBL estar em risco? Ora, naquele momento de sua fundação, a SBL nasceu como uma união para aumentar a chama da curiosidade científica na lógica brasileira. Mas, hoje, a questão é manter viva essa chama, espalhando-a. Tanto os mais experientes quanto os mais jovens, estamos todos no papel de incendiários com a função de espalhar esse fogo pelo mundo e não deixar que se extinga. Pois a vida da ciência está na vontade de aprender, na curiosidade incessante que visa, no fim das contas, superar a si mesma.
Tais afirmações não são meramente retóricas, mas se justificam por alguns fatores que podem ser considerados para uma resposta ponderada à questão da sobrevivência da SBL. Primeiro, a filiação individual à SBL caiu nos últimos anos. É difícil saber as causas dessa queda. Sejam quais forem, se mantida essa tendência, a SBL corre sérios riscos, pois uma sociedade pouco atrativa a potenciais novos membros em breve futuro deixará de existir. Agora, no presente, essa queda ameaça a própria situação financeira da SBL. É evidente que esses fatores estão relacionados. Sociedades que não possuem fontes de renda ou fundos patrimoniais para mantê-las não sobrevivem. Se a SBL deseja prosperar a longo prazo, mantendo acesa e flamejante a chama da investigação lógica, recrutar novos membros é fundamental.
Dado esse diagnóstico, entendemos que SBL precisa ser protagonista nas áreas às quais seus membros estão vinculados e posicionar-se com a devida relevância de sua história e sua produção científica frente à comunidade acadêmica nacional e internacional. Sem isso, nossa caminhada será limitada.
Assim, com o objetivo de aprimorar continuamente as ações e iniciativas já existentes, bem como implementar novos projetos, contamos com o apoio de toda a comunidade e incentivamos a participação constante no envio de sugestões, que serão devidamente avaliadas com a seriedade que merecem. Para tanto, apresentamos as seguintes propostas específicas.
1) Retomar a veiculação dos Boletins a par de ampliar a presença online da SBL como forma de divulgação;
2) Diversificar os meios de promover maior integração e incentivar a participação mais frequente dos membros da sociedade, principalmente jovens pesquisadores, como comissões executivas, iniciativas da SBL, assessorias etc.;
3) Criar uma Ouvidoria autônoma da SBL. Entendemos por ouvidoria um canal de relacionamento com a comunidade que visa receber e analisar manifestações, como reclamações, sugestões, elogios, denúncias, solicitações de informações etc., com o objetivo de melhorar a comunicação, garantir a participação coletiva e zelar pela ética da SBL;
4) Incentivar o engajamento de seus membros, principalmente jovens pesquisadores, na sociedade em geral, por exemplo, por meio de indicação de sua participação em comissões, eventos, festivais etc.;
5) Reativar um seminário periódico online de Lógica, no espírito do “Lógicos em Quarentena”, organizado pela SBL;
6) Apoiar e, na medida de suas possibilidades, favorecer ou mesmo promover atividades formativas, como cursos e seminários, seja em ciência de base ou aplicada, como forma de ajudar pesquisadores de todos os níveis a identificar oportunidades de aplicação da pesquisa ou mesmo prospectar novos direcionamentos;
7) Em conjunto com a proposta anterior, fortalecer a presença da SBL nos níveis de Ensino Médio e Fundamental, por meio de seus membros que neles atuem;
8) Estudar possibilidades de formar linhas editoriais para publicações, em acesso aberto, em perfis de pesquisa e de ensino (professores de ensino médio, graduação e pós-graduação);
9) Continuar a fortalecer e procurar expandir parcerias da SBL com outras sociedades do Brasil e do exterior como a ASL, SBPC e SBC, como forma de fortalecer e criar redes de contato;
10) Por fim, mas não menos importante, reiteramos nossa responsabilidade social em sentido amplo e reforçamos nosso compromisso com pautas sociais que buscam um mundo mais justo e igualitário.
Membros da chapa:
Está se aproximando a data para as eleições da nova diretoria da SBL. Assim, gostaríamos de colocar que, em continuidade e aprofundamentos com as ações e iniciativas de gestões anteriores, a nossa chapa defende os seguintes pontos:
- Seguir na defesa da educação de qualidade e, em particular, das universidades públicas e gratuitas, que foram alvo de muitos ataques nos últimos anos.
- Fortalecer e procurar expandir parcerias da SBL com outras sociedades do Brasil e do exterior como a ASL, SBPC e SBC.
- Seguir empenhados na questão da representatividade em Lógica, em todas as interpretações possíveis da palavra "representatividade", nos termos do evento Lógica e Representatividade do Dia Mundial da Lógica de 2021 (evento organizado em colaboração entre o Coletivo Lógicas Brasileiras e a SBL).
- Seguir empenhados em fortalecer a área de Lógica dentro da academia, sobretudo nas comunidades de Computação, Filosofia e Matemática, estimulando o ensino da Lógica em cursos e minicursos e apoiando estudantes e eventos nessas três áreas, na medida da disponibilidade de verbas da SBL.
- Atualizar, na página da SBL, as informações sobre grupos de pesquisa nacionais em Lógica e possivelmente disponibilizar informações básicas de associados a SBL que assim o desejarem.
- Promover a divulgação na página da SBL de programas de pós-graduação com atuação em Lógica, assim como informações básicas sobre seminários, cursos, minicursos e eventos no país e no exterior ligados à Lógica.
- Atuar na promoção e criação de minicursos e materiais sobre Lógica voltados a Extensão Universitária sobretudo voltado à formação de professores do ensino fundamental e médio e a divulgação da Lógica aos estudantes do ensino médio.
Estamos à disposição para maiores detalhamentos se houver membros da comunidade com alguma dúvida.
Membros da chapa: